Lionel Messi vai permanecer por mais uma temporada no Barcelona, mas a disputa do argentino com a diretoria obriga o clube a reconhecer uma dura realidade: a “Era Messi” está perto do fim. E o genial baixinho deixou sua insatisfação clara com os caminhos traçados nos últimos anos, questionando a falta de projeto que impede o Barça de brigar por coisas maiores. E talvez tenha razão. Ao analisarmos o desempenho recente da equipe, é impossível não ter a impressão de que o saldo final poderia ser muito melhor.
Messi é sinônimo de recordes e títulos, e o Barcelona dominou de forma inegável o futebol espanhol durante seus anos, mesmo quando o Real Madrid contou com o outro gênio da geração, Cristiano Ronaldo. Mas muito deste sucesso pareceu depender mais de um toque de sorte – além do talento do melhor do mundo – do que do bom trabalho dos gestores do clube. Inclusive, durante a última temporada, Messi alertou que o time atual poderia não ser o suficiente para a Liga dos Campeões, e depois chegou a se corrigir: não era suficiente para ser campeão na Espanha.
Nem sempre o Barcelona poderá contar com um jogador do porte do argentino saindo de suas categorias de base, e o clube não soube aproveitar isso da melhor forma. Das contratações discutíveis, a crise política e a escolha dos técnicos, aqui analisamos alguns dos pontos que comprovam que o Barça não aproveitou a “Era Messi” como deveria. E com um alerta: não será fácil substituir o gênio argentino e é melhor o clube começar a repensar suas ações para não viver dias mais duros.
1º – Caos político
Em seu discurso para confirmar sua permanência a contragosto até 2021, para evitar confronto judicial, Lionel Messi atacou diretamente Josep Maria Bartomeu, presidente do clube. Além de questionar o valor da palavra do dirigente, o argentino avaliou sua gestão como um desastre. Não sem razão. Podemos inclusive dizer que o principal problema dos últimos anos passou pelo comando do clube, que levou a uma série de outros erros que citaremos na sequência.
Mas ficamos apenas pelas polêmicas extra-campo. Quando Messi começou a sua carreira profissional, o presidente era Joan Laporta, conhecido na Espanha por sua imagem cercado de bebidas e mulheres. Foi acusado de usar o clube para pagar uma amante, entre outros escândalos, mas até teve sucesso no cargo e sua passagem não foi tão marcada negativamente como seus sucessores.
Sandro Rosell, presidente de 2010 a 2014, esteve envolvido em negócios escusos com Ricardo Teixeira, ex-CBF. Era responsável pelo clube quando foram feitos malabarismos fiscais questionáveis na contratação de Neymar, que o levaram a novas acusações e à renúncia do cargo. Acabou preso por fraude fiscal.
Por fim, o vice Josep Maria Bartomeu assumiu o comando, e conseguiu a façanha de tirar do sério a principal estrela do clube. E não apenas ele. Bartomeu chegou a ser acusado de pagar uma empresa de redes sociais para atacar seus opositores com contas falsas. Contas que acabaram por lançar críticas a atletas como Piqué e o próprio Messi… Um bom motivo para não ser querido pelos atletas.
2º – A Escolha dos Técnicos
A escolha de Pep Guardiola em 2008 mostrou-se uma grande decisão. Talvez tenha sido um toque de sorte. Desde então, as escolhas não tem sido assim tão unânimes.
Tito Vilanova foi a opção fácil após a saída de Pep. Auxiliar, conhecia bem o clube e os jogadores, mas sua passagem foi curta, marcada pela tragédia de um câncer que acabaria por o tirar a vida.
Tata Martino foi a aposta seguinte. Resta dizer que não deixou saudades, abrindo espaço para Luis Enrique. Enrique era uma figura de pouca experiência como técnico e de temperamento considerado difícil. O treinador chegou a se desentender com jogadores em diversos momentos e esteve ameaçado de demissão. O grupo acabou por se unir em prol do ex-jogador, e o resultado final foi bastante positivo apesar de tudo.
Ernesto Valverde assumiu após a saída de Luis Enrique. Um técnico de currículo correto, sem ser brilhante, e que nunca conseguiu ser unanimidade também em Camp Nou. A sua demissão no meio da temporada passado, no entanto, acabou por se mostrar um erro. Além de causar a ira de Messi com a decisão, o Barcelona optou por Quique Setién como substituto, um técnico de 61 anos e cuja maior conquista havia sido a terceira divisão.
3º – As contratações duvidosas
Hleb, Henrique, Keirrison, Chygrynskiy, Afellay, Song, Douglas, Boateng… Muito antes da estranha chegada de Martin Braithwaite, o Barcelona já havia mostrado uma pontaria para lá de falha no mercado de transferências. É possível fazer uma grande lista com reforços de qualidade duvidosa nos últimos anos.
Mesmo nos melhores momentos e buscando grandes nomes, o Barça conseguiu errar. Como na infame troca com a Inter de Milão entre Eto’o e Ibrahimovic. O camaronês estava no auge e acabou campeão europeu com o time italiano, enquanto o sueco não deixou saudades.
Até nos acertos, como Neymar, o Barcelona conseguiu criar confusão. A contratação do brasileiro terminou na justiça como caso criminal, de tão enrolada.
Recentemente, o Barça pagou fortunas por Ousmané Dembélé, Philippe Coutinho e Antoine Griezmann. Nenhum dos três conseguiu encantar com a camisa do clube.
O principal problema, no entanto, passa pela falta de equilíbrio e planejamento, como alertou Messi. A falta de visão sobre as necessidades reais do elenco levou o clube a investir em posições que nem sempre deveriam ser prioritárias, enquanto a equipe sofria em setores como as laterais e a defesa.
4 – Gestão de jogadores
Em um clube sério, seria impensável ver o maior ídolo da sua história saindo pela porta dos fundos. Mas foi o que quase aconteceu com Lionel Messi. E, embora muitos possam criticar a forma como o argentino tratou o caso, o fato é que virou rotina no clube. Há muito o Barcelona mostra falta de sensibilidade para tratar seus atletas e até ídolos.
Vamos voltar a uma época de grandes conquistas, ainda na fase com Pep Guardiola. Além do caso de Eto’o, comentado anteriormente, o Barça deixou sair Yaya Touré, tratado muitas vezes como um atleta banal em seu tempo na Catalunha. Acabou por se tornar ídolo no Manchester City e na Inglaterra.
Dani Alves saiu depois de uma série de atritos em 2016. O Barça desde então tem problemas para encontrar substituto na lateral direita. No ano seguinte, Neymar preferiu rumar ao Paris Saint-Germain por um valor recorde, uma decisão impensável se o atleta estivesse satisfeito. Na atual temporada, Arthur fez de tudo para ficar no clube e se viu usado como moeda de troca com a Juventus. Acabou por se recusar a jogar a reta final em protesto. Luis Suárez, outro ídolo, tem sido abertamente oferecido no mercado.
Tudo isso sem contar, é claro, com o famigerado caso das contas falsas com ataques a jogadores nas redes sociais, de uma empresa paga pelo próprio clube.
5 – DNA Barcelona
O Barcelona costuma ter orgulho da utilização da base, da sua forma de jogo com a escola holandesa, conceitos que parecem ter sido abandonados aos poucos.
Quando o Barcelona de Guardiola e Messi assombrou o mundo em 2008/09, as principais estrelas da companhia eram pratas da casa e conheciam bem o tal DNA Barcelona. Valdés, Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Messi… Todos titulares no time campeão europeu.
No Barcelona que levou a goleada histórica do Bayern de Munique, além de Piqué, Messi e Busquets, remanescentes já veteranos e em reta final de carreira, o Barça contou apenas com Sergi Roberto como atleta formado na casa (Jordi Alba até teve passagem pela base, mas deixou o clube muito antes de se profissionalizar).
Pode-se dizer que o “estilo holandês” também ficou no passado. Mesmo quando teve sucesso na Europa, com Luis Enrique, o time já tinha uma característica vertical e de jogo direto bastante diferente. E ficaria ainda mais distante com Ernesto Valverde.
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